As três primeiras fases do SMED

O artigo que se segue é uma adaptação de um conjunto de três artigos que surgiram no seguinte blogue: http://beyondlean.wordpress.com/2010/11/12/smed-part-3-reducing-trials/

SMED (Single Minute Exchange of Die) é uma ferramenta Lean básica.

Com a ferramenta SMED vamos atacar os tempos improdutivos em que os equipamentos estão parados para mudar de trabalho e de ferramentas. Durante uma mudança de referência não está a ser acrescentado qualquer valor ao produto ou serviço, ou seja, estamos perante actividades que o cliente não valoriza, não está disposto a pagar. Estamos a falar de um desperdício, mas um desperdício necessário nas actuais condições em que o processo está a operar. O objectivo é mudar de referência o mais rápido e eficientemente possível.

Shigeo Shingo mostrou como mudanças de trabalho realizadas em apenas alguns minutos (menos de dez) permitem diminuir o tamanho dos lotes e em consequência reduzir os prazos de entrega, os stocks em curso, aumentar a flexibilidade e diminuir as necessidades de fundo de maneio.

A mudança de referência ideal é a mudança instantânea onde não existe qualquer perda de capacidade produtiva.

No caminho para a mudança de referência ideal as três primeiras fases porque, em geral, passam os projectos SMED são:

  1. Melhorar a organização;
  2. Passar para apertos rápidos;
  3. Reduzir os ajustamentos e ensaios

Melhorar a organização

Esta é a primeira fase de um projecto SMED, o mais básico. Estamos a falar de aplicar os 5S à mudança de trabalho e de ferramentas. Os colaboradores que estão a executar a mudança não devem ter de a interromper para ir procurar, transportar ou arrumar ferramentas, materiais, documentos, amostras ou o que quer que seja. Eis algumas ideias para ajudar a reduzir o tempo de mudança de trabalho:

  • Tudo o que puder ser preparado antecipadamente, antes de a máquina produzir a última peça boa do lote anterior, deve estar pronto e junto da máquina. O mais comum é utilizarmos um carro SMED onde são colocadas os moldes que vão ser necessários e onde depois se colocam os moldes que saíram da máquina.
  • Os novos moldes que vão entrar na máquina e as ferramentas manuais devem estar ao alcance dos colaboradores que executam a mudança. Devemos minimizar as deslocações (número de passos) destes colaboradores. No caso de utilizarmos um carro SMED este deve estar ao lado dos colaboradores.
  • As ferramentas devem estar dispostas na ordem em que vão ser utilizadas.
  • Para o caso em que existem ferramentas partilhadas vamos arranjar formas de não termos de esperar por essas ferramentas. Pode dar-se o caso de a ferramenta estar a ser utilizada numa outra mudança e de a mudança que estamos a realizar ter de esperar. Se for necessário vamos comprar mais ferramentas para que possam estar mais de uma mudança a decorrer em paralelo.
  • Vamos garantir que os novos moldes chegam junto das máquinas em boas condições (testados, limpos e lubrificados). Vamos evitar ter de interromper uma mudança de trabalho para ir limpar o molde ou corrigir uma peça que acaba de se verificar estar partida.

Não é difícil reduzir o tempo de mudança de trabalho em cerca de 50% quando boas práticas de organização, arrumação e limpeza (os 5S) são aplicadas.

Passar para apertos rápidos

A segunda fase de um projecto SMED consiste em olhar para os apertos dos moldes:

  • Diminuir o número de apertos, questionando o seu número ou transformando-os em encaixes;
  • Normalizar os apertos, diminuindo os tipos de aperto e o número de ferramentas manuais;
  • Verificar se é possível mudar para apertos rápidos.

Estamos falar em eliminar parafusos e porcas para passar a encaixar o molde na máquina, para o segurar com grampos ou com manípulos de aperto manual. Com encaixes e apertos rápidos, não só se torna mais rápido segurar a peça na máquina, como o eliminamos a necessidade de utilizar chaves manuais de qualquer tipo.

Ao mesmo tempo, questionamos a necessidade de ter seis apertos onde poderiam existir apenas quatro. Quanto menos apertos forem necessários mais rápida é a mudança de referência.

Quer consigamos passar para apertos rápidos, quer tenhamos de manter os apertos aparafusados, vamos tentar normalizar os apertos para não sermos obrigados a possuir uma grande colecção de materiais e ferramentas sempre disponíveis. Se possível, vamos fazer com que os apertos do molde anterior sirvam para apertar o próximo molde.

Reduzir ajustamentos e ensaios

O tempo de uma mudança de ferramenta ou de trabalho é medido, no conceito SMED, entre a última peça boa do lote anterior e a primeira peça boa do lote seguinte produzida à velocidade normal da máquina. Dentro do conceito SMED a produção de peças, mesmo que boas, enquanto ajustamos a ferramenta e ensaiamos, faz parte do tempo de mudança que procuramos diminuir.

Eis algumas sugestões para diminuir o número de ajustamentos e ensaios:

  • Documentar os ajustamentos para que na próxima mudança os parâmetros da máquina e do molde sejam rapidamente ajustados;
  • Fazer marcas no molde e na máquina para ajudar o seu alinhamento;
  • Ajustar a ferramenta fora da máquina, ou seja, possuir um gabarit ou uma mesa onde a ferramenta é montada e ajustada, enquanto a máquina está a trabalhar. Quando a máquina parar vamos montar o gabarit na máquina. Este gabarit sendo normalizado facilita a sua montagem na máquina;
  • Utilizar batentes e pinos que são posicionados em pontos normalizados da máquina. Rever o molde para ter em conta estes pinos e batentes. Ao montar o molde apenas temos de o empurrar até aos pinos ou batentes para que ele fique imediatamente alinhado.

Um projecto SMED não se esgota nestas três fases, outras devem acontecer, mas em geral é por estas três que se começa. Reduzir os tempos de setup pode trazer grandes benefícios para o sistema industrial e logístico de uma empresa, em especial permite reduzir o tamanho dos lotes e baixar os stocks em curso.

Veja também 14 dicas para reduzir o tempo de setup.

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